Talvez nem todo gordinho, em nome da saúde, precise emagrecer. Essa é a conclusão à qual chegaram dois estudiosos brasileiros da área de obesidade do país, que discursaram para especialistas no 17º Congresso Brasileiro de Obesidade e Síndrome Metabólica, realizado na última semana em Olinda (PE).
Bruno Geloneze, da Unicamp, e Amélio Godoy Matos, da PUC-RJ, argumentam que existem gordinhos que não apresentam as características que costumam estar presentes na síndrome metabólica (conjunto de doenças como diabetes, pressão arterial alta e colesterol elevados, entre outras).
Isso porque nessas pessoas a gordura se distribui de uma forma metabolicamente favorável, preferencialmente na camada subcutânea da pele, nas regiões do quadril e do bumbum.
No grupo dos metabolicamente desfavorecidos estão aqueles gordinhos –e até alguns magrinhos– que têm mais gordura acumulada na região do abdome, próximo às vísceras. Em excesso, essa gordura tende a se acumular no fígado, por exemplo, e é inflamatória, sendo uma das possíveis causas do diabetes e de problemas circulatórios.
A gordura “do bem” consegue, ao produzir hormônios como a adiponectina, manter a funcionalidade do organismo, impedindo que doenças como o diabetes se instalem –até um certo limite, claro, quando as numerosas células acabam morrendo sufocadas por conta desse grande acúmulo.
Essa gordura subcutânea –somada ao exercício físico e na presença de parâmetros bioquímicos favoráveis– pode ser suficiente para que uma pessoa acima do peso não precise, por exemplo, entrar em dietas restritivas ou começar a tomar remédios para emagrecer.
Não se sabe por que a gordura visceral tem uma função tão diferente da gordura subcutânea do bumbum e das coxas, mas uma possível hipótese, diz Vicência Sales, pesquisadora do Joslin Diabetes Center, ligado à Escola de Medicina de Harvard, é que esses tecidos tenham origem distinta desde a fase embrionária.
E a diferença é tanta que só o tecido subcutâneo é capaz de, em resposta ao frio, se modificar e, ao invés de acumular lipídios, passar a consumi-los, gerando calor e aquecendo o organismo no processo.
Alguns dados, porém, sugerem que, ao invés da origem embrionária, o local onde as células se encontram é que comanda seu comportamento. Pesquisadores já transplantaram gordura subcutânea para dentro do abdome de roedores.
Como resultado, essa gordura passou a se comportar como a visceral, apresentando marcadores inflamatórios e piorando o estado de saúde do bicho.
“Ter a gordura visceral estocada só é vantajoso em uma situação extrema, para obter energia em casos de grandes períodos de fome e de frio,o que não é o caso da maioria da pessoas”, diz a cientista.
MAGRO OBESO
Se alguns gordinhos podem respirar aliviados –parcela entre 5% e 25% dos obesos e especialmente as mulheres, que tendem a acumular gordura da maneira “certa”–, muitas pessoas com IMC (Índice de Massa Corporal) normal podem estar em apuros e nem saber. “Esse é o maior desafio: identificar o magro que é metabolicamente obeso”, afirma Geloneze.
São as pessoas que têm pernas finas e uma barriga grande, repleta de gordura visceral, geralmente mais dura. O risco de essa pessoa ter diabetes e outras complicações chega a ser 300% maior que o de magros saudáveis.
Segundo o professor da Unicamp, a comunidade médica e de nutricionistas ainda não sabe encontrar ou lidar com esse tipo de paciente.
Para Amélio Godoy Matos, que trabalha no Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia, no Rio, pessoas cujo organismo não sabe estocar gordura de um jeito saudável seriam candidatas a começar imediatamente um tratamento clínico para a perda de peso.
Fonte: http://odocumento.com.br/noticias/saude-e-lazer/gordura-pode-livrar-obeso-de-dieta-e-remedios,21310