O governo paulista anunciou nesta segunda-feira (29) que vai montar uma comissão para acompanhar a gestão da Santa Casa de São Paulo.
A medida é uma espécie de intervenção na administração do complexo e uma forma de garantir a continuidade dos repasses, embora o secretário de Estado de Saúde, David Uip, negue que seja uma intervenção formal.
Uma reunião com gestores da Santa Casa está marcada para esta terça-feira (30) para definir os detalhes de como a comissão funcionará.
Segundo a Folha apurou, essa “intervenção branca” é uma forma de o Estado participar da gestão sem que precise assumir também as dívidas, estimadas em R$ 1 bilhão, caso optasse pela intervenção oficial –o valor inclui dívidas bancárias, com fornecedores e possível passivo trabalhista.
Esse mecanismo foi a saída encontrada pelo governo para manter repasses ao complexo hospitalar mesmo após ter encontrado graves problemas de gestão.
Uma possibilidade, segundo a Folha apurou, seria condicioná-los à saída do provedor Kalil Abdalla. A ideia foi descartada pelo secretário.
“Isso é problema da Santa Casa e de quem de direito. Não opino sobre provedor”, afirmou Uip, ao ser questionado sobre Abdalla.
O provedor perdeu o diálogo com o governo após fechar o pronto-socorro central por 28 horas, em julho, alegando falta de verbas para comprar materiais e medicamentos.
O que pesou nessa “intervenção branca” é o fato de o secretário ter aprovado a nomeação do novo superintendente, Irineu Massaia, 38.
“Estou otimista com os novos gestores. […] Eu conheci o doutor Irineu recentemente. É despojado de qualquer sentimento de revanchismo. Só o fato de ter assumido demonstra que é um grupo corajoso e altruísta”, afirmou.
A Santa Casa tem uma gestão profissional, comandada pelo superintendente, e outra voluntária, encabeçada pelo provedor.
Assim, além de verbas para custeio, o governo deve liberar recursos para que Massaia possa contratar funcionários para ajudá-lo a compor os quadros para a nova superintendência.
As medidas foram anunciada durante apresentação do resultado da auditoria que, conforme a Folha revelou, mostra que a gestão Abdalla esgotou quase todos os recursos do hospital em cinco anos.
Entre 2009 e 2013, o patrimônio líquido da entidade caiu de R$ 220 milhões para R$ 323 mil (ou 0,15% do valor).
Para Uip, os números da Santa Casa são “alarmantes”. “A perda de patrimônio é evidente. Os problemas de gestão são evidentes. Estamos muito preocupados”, disse.
“A Santa Casa depende 100% de dinheiro de empréstimo. Então caminha para insolvência a curto prazo.”
A auditoria foi anunciada em 24 de julho, logo após o fechamento do pronto-socorro.
OUTRO LADO
Procurada, a Santa Casa não se manifestou sobre os resultados da auditoria e a comissão. Abdalla também não respondeu aos recados deixados em seu celular.
Em entrevista anterior, ele negava má gestão do hospital. “Temos certeza da lisura da contabilidade”, disse.
A auditoria foi formada por representantes da Santa Casa e dos governos estadual, federal e municipal, além do Conselho Estadual de Saúde.
FONTE: Folha de S. Paulo