Uma pesquisa que descreve 24 casos de crianças nascidas no Brasil com hidrocefalia por síndrome congênita do vírus Zika entre outubro e novembro de 2015, liderada pela Dra. Vanessa van der Linden, neuropediatra reconhecida por ter sido a primeira a alertar sobre a microcefalia no país, foi publicada esta semana no periódico JAMA Neurology. [1]
A hidrocefalia é uma complicação tratável, porém potencialmente fatal, que ainda não havia sido descrita na síndrome congênita pelo vírus Zika.
“Outras infecções, como o citomegalovírus ou a toxoplasmose têm relação com a hidrocefalia, mas geralmente é logo após o nascimento, disse ao Medscape a Dra. Vanessa. “Uma das surpresas foi a apresentação da hidrocefalia de início tardio”, afirmou.
Os casos mais precoces foram registrados aos três ou quatro meses de idade, um com 10 meses, e a maioria com um a dois anos de idade. Houve crianças que não tinham sinal de hidrocefalia na ressonância inicial, e que após alguns meses começaram a apresentar a dilatação ventricular. “Essas crianças estão com três anos agora. Não tivemos mais nenhum caso a partir dos dois anos de idade”, ressaltou a Dra. Vanessa.
A pesquisa
O trabalho, que teve participação de médicos de outros hospitais brasileiros e de várias universidades nacionais e internacionais, descreveu, de forma retrospectiva, as características clínicas e os achados dos exames imagem dos 24 pacientes com síndrome congênita do vírus Zika que evoluíram com hidrocefalia.
A coorte multicêntrica teve 308 pacientes com síndrome congênita causada pelo vírus Zika, mas outras 24 crianças entre 3 e 18 meses entraram no estudo com diagnóstico clínico e laboratorial de síndrome congênita do vírus Zika. Essas crianças apresentaram sinais e sintomas clínicos ou tiveram achados aos exames de imagem sugestivos de hidrocefalia, além da confirmação de hipertensão intracraniana idiopática durante os procedimentos de derivação ventrículo-peritoneal.
Os pacientes, nascidos entre outubro e novembro de 2015 foram acompanhados até meados de 2017 na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), em Recife e no Hospital Infantil Albert Sabin, em Fortaleza, dois centros de referência para a síndrome congênita da zika no Brasil.
No momento do diagnóstico de hidrocefalia, apenas 14 dos 24 pacientes (58%) tinham sinais e sintomas sugestivos de hidrocefalia, como agravamento das convulsões, vômitos, irritabilidade e/ou aumento súbito do percentil do perímetro cefálico.
Trinta e três porcento das crianças apresentaram sinais e sintomas neurológicos inespecíficos de hidrocefalia. O agravamento das convulsões foi o sinal mais frequente (13 pacientes, 54%). Dois pacientes (8%) não tinham sinais clínicos de hidrocefalia, mas tiveram redução do volume cerebral na repetição dos exames de imagem.
Os achados geraram novas perguntas, muitas ainda sem resposta. A Dra. Vanessa destacou que, a “hidrocefalia tem várias causas, mas um fato que chamou a atenção durante a pesquisa foi que 75% dos pacientes tinham defeito importante da fossa posterior, com características que sugeriam malformação de Dandy Walker. Pode ser que em alguns casos essa malformação esteja relacionada com a hidrocefalia, mas eu tive pacientes com essa malformação posterior que não tiveram hidrocefalia”.
Fonte: Medscape