Um jovem norte-americano, que ficou tetraplégico após um acidente, recuperou a mobilidade nos dedos e na mão, graças a um microchip implantado no cérebro, um tratamento pioneiro cujos resultados são publicados esta quarta-feira na revista “Nature”.
A investigação com sensores, que captam a atividade neuronal, tinha permitido, até agora, transmitir sinais cerebrais a braços articulados externos, mas é a primeira vez que é recuperada a mobilidade nas extremidades de membros de uma pessoa com paralisia.
Uma equipe da Universidade Estatal de Ohio e do Instituto Feinstein para a Investigação Médica, ambos nos Estados Unidos, conseguiu ligar um implante cerebral a um dispositivo com 130 elétrodos capazes de gerar movimento na mão.
O sistema funciona como um ‘bypass’ eletrônico que contorna a lesão na espinal medula do jovem, sem mobilidade nas pernas e nos braços há cinco anos, e liga de novo o cérebro aos músculos.
A partir de algoritmos de autoaprendizagem, um computador descodifica a atividade neuronal de Ian Burhart, de 24 anos, e deteta quando o jovem está a pensar em realizar determinado movimento.
Com esta informação, o ‘software’ dá a ordem em tempo real aos elétrodos do braço para que os músculos executem ações, como fechar a mão, contrair o dedo ou rodar o pulso.
Quando o sistema está operacional, Ian Burhart pode levantar uma garrafa e verter o líquido num copo, ou carregar nos botões de um instrumento musical.
Segundo os cientistas, a tecnologia pode permitir, no futuro, que pessoas com paralisia se possam vestir e alimentar sozinhas.
“Ian pode, agora, realizar movimentos funcionais, o tipo de movimentos necessários para as atividades diárias que as pessoas sem paralisia dão por adquiridas”, afirmou, citado pela agência Efe, o coordenador da investigação, Chad Bouton, apontando como “um dos avanços mais importantes” do trabalho o facto de a sua equipa ter conseguido que o jovem mova cada dedo, individualmente.
Ian Burhart ficou tetraplégico depois de ter sido atingido por uma onda, numas férias na praia na companhia de amigos. Durante mais de um ano, submeteu-se a três sessões de treino semanais, para que a terapêutica fosse aperfeiçoada.
A equipa de Chad Bouton demorou dez anos a desenvolver o microchip cerebral, os algoritmos para interpretar os sinais cerebrais e o dispositivo com elétrodos para traduzir a informação em movimentos.
Fonte: JN